sexta-feira, 6 de maio de 2011

Redes sociais: combustível para infidelidade?



 Casais usam cada vez mais a internet para descobrir se parceiros são fiéis


Antes, a suspeita podia nascer dos excessos do marcador de quilometragem do carro, da conta bancária, do horário. Agora, qualquer rede social pode fazer disparar o alarme.  As novas tecnologias introduziram algumas mudanças na forma como as pessoas se relacionam umas com as outras. Sete em cada dez portugueses consideram-nas um combustível para a infidelidade.

Não há quem não tenha uma história para contar. Basta lançar odesafio na mais popular rede social, o Facebook, para as coleccionar histórias. Ora, leia esta: "A melhor foi a de uma colega de trabalho que estava a meio do expediente. Ligou o Facebook e leu um daqueles posts de perguntas acerca de amigos na página do marido. Era qualquer coisa como: "P: Quando é que X é mais mal disposto? R: Ao pequeno-almoço." Ela perguntou-nos o que achávamos que aquilo queria dizer. Foi um pé-de-vento lá em casa."

O desconfiado pode vigiar o perfil do companheiro. "Hoje, ao contrário do passado, a não exclusividade é razão para desfazer um casamento", nota a terapeuta familiar Gabriela Moita. "E muitos casais vivem obcecados com a ideia de descobrir se o outro lhe é infiel. Controlam os celulares, o Facebook, a Internet, tornam a vida, a sua e a do outro, terrível."

Na Internet, como fora dela, nem sempre o que parece é. Só para lançar a confusão, lembra a psicóloga Catarina Ribeiro, uma pessoa pode escrever no mural de outra: "Adorei o nosso último encontro." Até um casal estável pode ser permeável a um comentário deste tipo. Uma mulher inquietou-se ao ler no mural do marido: "Não podemos adiar o nosso reencontro." Não era, afinal, uma amante. Era uma antiga colega de escola que o queria reencontrar.

As redes sociais têm a particularidade de trazer, de enxurrada, figuras de outros tempos. Sobram histórias de namorados da adolescência ou da juventude que se reencontram na Internet, e que, embalados pela intensidade do passado, idealizam um futuro. Quantos casados?

O psiquiatra Allen Gomes não sabe se a infidelidade aumentou. Sabe que "as pessoas são apanhadas". "Porquê? Porque têm um desejo tão grande de ser amadas que guardam as mensagens escaldantes que recebem pelo Facebook, pelo e-mail e pelo celular. Não as apagam. E são descobertas. É como as cartas de amor de antigamente, que se guardavam com um laçarote."

A escritórios de advogadas como Rita Sassetti chegam cada vez mais casos de divórcio resultantes de infidelidades descobertas nos computadores e nos celulares. Um estudo britânico responsabiliza o Facebook por 20 por cento dos divórcios. Em Portugal, não há estudos. Os portugueses, todavia, parecem convencidos dos poderes (maléficos?) das novas tecnologias: 55,4 por cento concordam e 16,2 por cento concordam completamente com a ideia de que contribuem para o aumento da infidelidade. Esta crença é mais forte no Norte litoral. E mais fraca entre divorciados.

Para Gustavo Cardoso, especialista em tecnologias de informação, não tem sentido culpar as novas tecnologias: "A lógica das redes sociais é multiplicar as relações fracas e aprofundar as relações fortes." É inegável que a Internet alarga o universo de pessoas acessíveis. A paixão, porém, requer bem mais do que isso. Tem de haver uma certa predisposição para a viver. "Se as pessoas querem ser infiéis, tanto podem sê-lo saindo à noite, como indo ao Facebook", enfatiza. "É possível ser mais infiel no Facebook? É. Até se pode ter seis janelas abertas ao mesmo tempo."

"Redes agudizam conflito"

Se pode ser mais fácil começar, também pode ser mais difícil terminar um namoro. Há até quem saia do Facebook para controlar a tentação de espreitar o perfil do ex. Eliminá-lo da lista de amigos não chega: o ex aparecerá, como um fantasma, via comentários feitos a amigos comuns.

Maria Tomé, 35 anos, já assumiu um namoro no Facebook. Mudar o estado de "solteiro" para numa "relação com" pareceu-lhe "natural": "Toda a gente sabia que namorávamos." No fim, teve de mudar de "numa relação com" para "solteiro". "Muita gente soube por lá. As pessoas começaram a fazer perguntas." E a ansiedade era a dobrar, porque na mesma altura terminara uma relação de amizade com uma amiga do ex-namorado. Andava atenta ao perfil de um e de outro para detectar as piadas que podiam surgir de um lado ou de outro. E sentia-se humilhada. "As redes sociais agudizam o conflito", avisa Catarina Ribeiro. "As pessoas usam-nas para fazer a catarse, que fariam em privado. Um faz o desabafo sem o consentimento do outro e aquilo fica disponível para muita gente consultar." O problema parece-lhe mais grave quando envolve crianças, que podem ser usadas ou ler o que ali se escreve.

por Ana Cristina Pereira 

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